sexta-feira, 17 de junho de 2011

“As crianças - todas as crianças, garanto - estão dispostas para a aventura da aprendizagem inteligente. Estão fartas de ser tratadas como infradotadas ou como adultos em miniatura. São o que são e têm direito a ser o que são: seres mutáveis por natureza, porque aprender e mudar é seu modo de ser no mundo.”
FERREIRO, Emilia. Passado e Presente dos Verbos Ler e Escrever. Corte.

As situações didáticas de Língua Portuguesa


Cada criança chega à escola em uma fase da alfabetização - o nível de compreensão depende das possibilidades prévias de contato com o mundo da escrita. Apesar de uma classe ter alunos em estágios diferentes de conhecimento, todos podem aprender. "O ambiente escolar deve ser pensado para propiciar inúmeras interações com a língua escrita", afirma Telma Weisz, especialista em Psicologia Escolar e uma das maiores autoridades em alfabetização no Brasil. O papel do professor é mediar interações.
Para auxiliá-lo na tarefa de facilitar o ingresso da meninada no universo da linguagem escrita, o docente tem à disposição algumas atividades consagradas. "Aprendi que a leitura para a classe é uma delas e faço isso diariamente. Sento-me em roda com a turma, mostro um livro, falo sobre o autor e leio por cerca de 15 minutos", afirma Cintia Dante de Queiroz Minelli, da EMEB Professor Bráulio José Valentim, na zona rural de Mogi Mirim, a 160 quilômetros de São Paulo. A educadora incentiva a escrita utilizando letras móveis ou lápis: “É para que as crianças descubram que tudo o que falam pode ser escrito”.
A conclusão da alfabetização inicial ocorre após os dois primeiros anos de escolaridade. Nas séries seguintes, a garotada aprofunda conhecimentos sobre diferentes gêneros de texto e ganha maior autonomia na produção e na leitura. Maria Ussifati, da EM Tempo Integral, de Umuarama, a 600 quilômetros de Curitiba, vê o progresso de seus alunos da 4ª série. Eles lêem uns para os outros e indicam títulos a amigos. “Percebo que mesmo os que não têm o hábito de ler ficam interessados quando vêem o colega com um livro ou contando uma história curiosa”, ela explica. As cinco situações didáticas de Língua Portuguesa estão descritas em duas fases, alfabetização inicial e continuidade (veja a seguir). Como o nível de leitura e escrita varia dentro de uma classe, é importante identificar em que fase cada aluno está e escolher atividades adequadas para a turma.
 
1. Leitura para a classe feita pelo professor
Na alfabetização inicial
O que é: A turma forma uma roda, e o professor lê em voz alta textos literários, jornalísticos, regras de jogos etc. Os gêneros devem variar para que o repertório se amplie. Além de contos de fadas, valem notícias que tratem de algum assunto de interesse de crianças. Também é imprescindível garantir a qualidade do material à disposição da meninada.
Quando propor: Diariamente.
O que a criança aprende: Os usos e as funções da escrita, as características que distinguem os gêneros e as diferenças entre o oral e o escrito. Ela se familiariza com a linguagem e os elementos dos livros (que contam histórias), dos jornais (que trazem notícias) e dos textos instrucionais (que incluem regras de jogos ou receitas culinárias).
Na continuidade
O que é: Leitura de livros literários mais longos (podem ser selecionados capítulos inteiros, por exemplo) e textos informativos mais complexos. O objetivo é que a turma construa uma compreensão coletiva de cada obra.
Quando propor: Diariamente.
O que a criança aprende: Características de textos mais difíceis e de diferentes gêneros.


2. Leitura pelo aluno para aprender a ler
 Na alfabetização inicial
O que é: A tentativa de ler listas ou textos conhecidos de memória (poemas, canções e trava-línguas). Sabendo o que es escrito (nomes de frutas, por exemplo), é possível antecipar o que pode estar escrito e confirmar por meio do conhecimento das letras iniciais ou finais, entre outras formas.
Quando propor: Em dias alternados aos de atividades de escrita.
O que a criança aprende: O funcionamento do sistema de escrita. Além disso, ela compreende como acionar as primeiras estratégias de leitura.
Na continuidade
O que é: O crescimento da autonomia. O estudante pode entrar em contato com diferentes gêneros para saber quando e como usá-los e, assim, aprender a buscar informações e a ler para estudar.
Quando propor: Em dias alternados aos de atividades de escrita.
O que a criança aprende: A compreender textos mais desafiadores. Durante a leitura, ela pode localizar e selecionar informações apoiando-se em títulos, subtítulos ou imagens e apontando o que é interessante.

 
3. Escrita pelo aluno para aprender a escrever
Na alfabetização inicial
O que é: A tentativa de escrever o que se conhece de memória (como poemas, canções e trava-línguas) ou listas (de nomes, frutas ou brinquedos), utilizando lápis e papel ou letras móveis.Quando propor: Em dias alternados aos de atividades de leitura.O que a criança aprende: A refletir sobre o sistema de escrita, a representar graficamente o que necessita redigir e a definir quantas e quais letras usar.Na continuidade
O que é: A sequência da prática da escrita com o aperfeiçoamento da letra cursiva, da ortografia e da separação entre as palavras.Quando propor: Diariamente, nas situações de revisão ou práticas de ortografia. O que a criança aprende: As regras e normas da escrita padrão.


4. Produção de texto
Na alfabetização inicial
O que é: Os pequenos ditam um texto, e o professor escreve no quadro. Eles ficam com o controle do que se escreve e acompanham como isso é feito. Podem ser feitas perguntas para provocar participações e estruturar a escrita. Ao fim da atividade, a produção deve ser revisada. Quando propor: Várias vezes por semana, sempre que houver uso da escrita. O que a criança aprende: A organizar as idéias principais de um texto conhecido e a modificar a linguagem, passando da forma oral para a escrita.
Na continuidade
O que é: A reescrita e a produção de textos com autonomia crescente. O aluno define o leitor, o propósito e o gênero, revisa e cuida da apresentação final. Quando propor: Diariamente. O que a criança aprende: A usar procedimentos de escritor: planejar o que escrever, fazer rascunhos, reler e revisar.


5. Comunicação oral
 Na alfabetização inicial
O que é: Atividades em que a garotada narra histórias, declama poemas, apresenta seminários e realiza entrevistas. Podem ser feitos saraus e apresentações para expor um tema usando roteiros ou cartazes para apoiar a fala.
Quando propor: Algumas vezes por mês, dependendo dos projetos e das atividades em desenvolvimento.
O que a criança aprende: A utilizar a linguagem oral com eficiência, defendendo pontos de vista, relatando acontecimentos, formulando perguntas e adequando sua fala a diferentes situações formais.
Na continuidade
O que é: Preparação e realização de atividades e projetos que incluam a exposição oral, articulando conteúdos de linguagem verbal e escrita. É interessante incentivar a turma a falar com base em um roteiro e a fazer entrevistas e seminários.
Quando propor: Algumas vezes por mês, dependendo dos projetos e das atividades em desenvolvimento.
O que a criança aprende: A participar de situações que requeiram ouvir com atenção, intervir sem sair do assunto tratado, formular perguntas, responder a elas justificando suas respostas e fazer exposições sobre temas estudados.

FONTE: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/alfabetizacao-inicial/mais-letras-423903.shtml?page=0

PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS

SUGESTÕES DE ATIVIDADES PARA DESENVOLVER A LEITURA E A ESCRITA

As atividades sugeridas abaixo irão pre­parar a criança para um melhor desempe­nho nas atividades escritas e darão suporte durante todo o processo de alfabetização.

·         Trabalho intenso com os nomes das cri­anças, destacando as letras iniciais - ativi­dades variadas com fichas, crachás e alfa­beto móvel.
·         Contato com farto e variado material escrito - revistas, jornais, cartazes, livros, jo­gos, rótulos, embalagens, textos do profes­sor e dos alunos, músicas, poesias, parlendas, entre outros.
·         Observação de atos de leitura e escrita.
·         Audição de leitura com e sem imagem - notícias, propagandas, histórias, cartas, bi­lhetes etc.
·         Hora de leitura - livros, revistas e jor­nais à escolha da criança.
·         Atividades de escrita espontânea - lis­tas, relatórios, auto-ditado.
·         Atividades para distinção de letras e numerais.
·         Manipulação intensa do alfabeto móvel.
·         Desenho livre, pintura, modelagem, re­corte, dobradura.
·         Caixa com palavras ou nomes significa­tivos - de cada aluno ou da classe.
·         Classificação de palavras ou nomes que se parecem - as que começam com a mesma le­tra, as que possuem o mesmo número de le­tras, palavras grandes e pequenas etc.
·         Memorização de como se escrevem al­gumas palavras (fonte de conflito).
·         Jogos diversos
Ø  bingo de letras, de iniciais de nomes, de nomes e outros,
Ø   memória de letras, nomes, desenhos;
Ø  dominós associando nomes e iniciais, desenhos, letras;
Ø  baralho de nomes, figuras;
Ø  quebra-cabeças variados com gravuras, nomes, letras;
Ø  pescaria de nomes, letras iniciais ou de letras do alfabeto.
·         Jogos com cartões:
Ø  parear cartões com nomes iguais;
Ø  parear cartões com desenhos;
Ø  parear cartões com letras.
·         Jogos com o alfabeto móvel:
Ø  cobrir fichas ou crachás;
Ø  formar o próprio nome e os dos colegas à vista do modelo;
Ø  separar e agrupar letras iguais;
Ø  classificar letras segundo número de aberturas e hastes, partes fechadas e hastes, curvas ou retas.

·         Álbuns:
Ø  de rótulos e embalagens;
Ø  de nomes e retratos ou auto-retrato;
Ø  da história de vida da criança.
·         Jogos e brincadeiras orais:
Ø  com rimas;
Ø  adivinhações;
Ø  telefone sem fio;
Ø  hora de surpresa;
Ø  recados orais;
Ø  jornal falado.
·         Outras atividades e brincadeiras:
Ø  leitura de poesias e quadrinhos, parlendas, músicas etc.
Ø  planejamento da rotina do dia;
Ø  avaliação dos trabalhos do dia;
Ø  relatório oral de experiências;
Ø  histórias mudas;
Ø  produção de texto oral - coletivo;
Ø  conversa informal;
Ø  correio;
Ø  etiquetação de objetos;
Ø  estudo e interpretação de gravuras;
Ø  jogos de atenção;
Ø  análise e síntese de palavras;
Ø  interpretação oral de textos;
Ø  reescrita com representação através de desenhos do texto trabalhado;
Ø  reconto e reescrita de histórias e de outros textos;
Ø  auto ditado  e escritas espontâneas.
Ø  Leitura compartilhada (leitura diária, de preferência feita no inicio da aula de variados gêneros textuais, somente pelo simples prazer de ler e oportunizar o contexto da criança com a leitura);
Ø  Revisão de textos;
Ø  Produção de texto coletivo – professor sendo o escriba do texto ditado pelos alunos.
Ø  Duplas produtivas.

POR QUE AS CRIANÇAS DEVEM APRENDER A ESCREVER COM LETRA DE FÔRMA PARA DEPOIS PASSAR PARA A CURSIVA?

Esta escolha está relacionada ao processo de construção das hipóteses da escrita. Durante a alfabetização inicial, os pequenos trabalham pensando quais e quantas letras são necessárias para escrever as palavras. As letras de fôrma maiúsculas são as ideais para essa tarefa, já que são caracteres isolados e com traçado simples - diferentemente das cursivas, emendadas umas às outras. O aprendizado das chamadas "letras de mão" deve ser trabalhado com crianças alfabéticas, que já têm a lógica do sistema de escrita organizada. Antes de estarem alfabetizadas, elas entram em contato naturalmente com as letras cursivas e as de fôrma minúscula e até podem ser apresentadas a elas, desde que tal contato fique restrito à leitura.
Julia de Almeida, Belo Horizonte, MG
Consultoria Cristiane Pelissari, selecionadora do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10.
 FONTE: Nova Escola Edição 217 | Novembro 2008

“O livro é um encontro que o autor marca com o leitor, esperando que ele compareça. Se o encontro acontece, pode nascer um forte forte ligação entre eles.”

FONTE: Marcelo Xavier – livro Se criança governasse o mundo...

DUPLAS PRODUTIVAS

Ao interagir com um colega que tem conhecimentos próximos aos seus,  embora diferentes, um aluno pode ampliar:
• seu conhecimento sobre as letras;
• seu conhecimento sobre as possibilidades de analisar uma palavra em partes menores (por exemplo, um aluno pré-silábico que considera as palavras como um todo amplia seus conhecimentos ao trabalhar com um colega que, ao escrever, vocaliza cada uma das sílabas e inclui uma letra para cada som percebido);
• sua hipótese sobre o número de letras necessárias para representar uma palavra ou uma sílaba;
• seu conhecimento sobre os sons associados às letras; os recursos que pode utilizar enquanto escreve (por exemplo, um aluno que ainda não considera o valor sonoro das letras pode aprender com outro quando este lhe diz que CAVALO começa com as mesmas letras de CAIO, um colega da classe).

Ao formar as duplas de trabalho, é importante que você considere o que cada um de seus alunos já sabe sobre a escrita, utilizando para isso a sondagem feita. Depois disso, observe o modo como os alunos trabalham juntos para decidir se a dupla é de fato produtiva (se os dois forem inquietos, ou ambos muito tímidos, talvez não sejam bons parceiros). Nas próximas atividades, você pode repetir duplas que se mostraram produtivas e mudar parcerias que não funcionaram bem.

Uma parceria produtiva se caracteriza por:
• troca mútua de informações, isto é, ambos têm contribuições a oferecer
(isso não acontece quando um sabe muito e o outro se limita a copiar);
• atitude conjunta de colaboração, buscando realizar as atividades propostas
da melhor maneira possível;
• aceitação das idéias do colega quando parecem mais acertadas.

Seguem alguns exemplos:
- Aluno silábico sem valor sonoro com outro que esteja silábico com valor sonoro.
- Aluno silábico com valor sonoro, mas que tenha pouco repertório de letras com outro aluno silábico com valor sonoro com rico repertório de letras.
- Aluno pré-silábico com Aluno silábico sem valor sonoro.
- Aluno silábico-alfabético com aluno alfabético, etc.